quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Canção Póstuma - Cecília Meirelles

Fiz uma canção para dar-te;

porém tu já estavas morrendo.

A Morte é um poderoso vento.

E é um suspiro tão tímido a Arte...


É um suspiro tímido e breve

como o da respiração diária.

Choro da pomba. E a Morte é uma águia

cujo grito ninguém descreve.


Vim cantar-te a canção do mundo,

mas estás de ouvidos fechados

para os meus lábios inexatos

- atento a um canto mais profundo.


E estou como alguém que chegasse

ao centro do mar, comparando

aquele universo de pranto

com a lágrima da sua face.


E agora fecho grandes portas

sobre a canção que chegou tarde.

E sofro sem saber de que arte

se ocupam as pessoas mortas.


Por isso é tão desesperada

a pequena, humana cantiga.

Talvez dure mais que a vida.

Mas à Morte não diz mais nada.