terça-feira, 22 de novembro de 2011

Pressentimento

Ai....ardido peito




Quem irá entender o seu segredo




Quem irá pousar em teu destino




E depois morrer de teu amor?





Ai....Mas quem virá?




Me pergunto a toda hora




E a resposta é o silêncio




Que atravessa a madrugada





Vem meu novo amor




Vou deixar a casa aberta




Já escuto o teus passos




Procurando pelo abrigo




Vem que o sol raiou




Os jardins estao florindo




Tudo faz pressentimento




Esse é o tempo anseado




De se ter felicidade

domingo, 13 de novembro de 2011

Amizade Estelar (Aforismo 279 - A Gaia Ciência - Nietzsche)

Éramos amigos e agora somos estranhos um ao outro.

Mas não importa que assim o seja: não procuremos escondê-lo ou calá-lo como se isso nos desse razão para nos envergonhar.

Somos dois navios, cada qual com o seu objetivo e a sua rota particular; podemos nos cruzar, talvez, e celebrar juntos uma festa, como já o fizemos - e esses corajosos barcos estavam lá tão tranqüilos, debaixo do mesmo sol, no mesmo porto, que se teria acreditado que tinham alcançado o objetivo, o mesmo destino.

Mas a onipotência das nossas tarefas separou-nos em seguida, empurrados para mares diferentes, debaixo de outros sóis - e talvez nunca mais nos voltemos a ver: mares diferentes, sóis diversos nos mudaram!

Era preciso que nos tornássemos estranhos um ao outro: era a lei que pesava entre nós: é exatamente por isso que nos devemos mais respeito. Para que a idéia da nossa antiga amizade se torne ainda mais sagrada!

Há provavelmente uma formidável trajetória, uma pista invisível, uma órbita estelar, sobre a qual os nossos caminhos e os nossos objetivos diferentes estão inscritos como pequenas etapas: elevemo-nos até este pensamento!

Porém a nossa vida é demasiado curta e a nossa vista demasiado fraca para que possamos ser mais que amigos, no sentido em que o permite esta sublime possibilidade... Acreditemos, então, na nossa amizade estelar, ainda que tenhamos de ser inimigos na Terra.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Canção Póstuma - Cecília Meirelles

Fiz uma canção para dar-te;

porém tu já estavas morrendo.

A Morte é um poderoso vento.

E é um suspiro tão tímido a Arte...


É um suspiro tímido e breve

como o da respiração diária.

Choro da pomba. E a Morte é uma águia

cujo grito ninguém descreve.


Vim cantar-te a canção do mundo,

mas estás de ouvidos fechados

para os meus lábios inexatos

- atento a um canto mais profundo.


E estou como alguém que chegasse

ao centro do mar, comparando

aquele universo de pranto

com a lágrima da sua face.


E agora fecho grandes portas

sobre a canção que chegou tarde.

E sofro sem saber de que arte

se ocupam as pessoas mortas.


Por isso é tão desesperada

a pequena, humana cantiga.

Talvez dure mais que a vida.

Mas à Morte não diz mais nada.

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Tabacaria - Fernando Pessoa

Fiz de mim o que não soube,
E o que podia fazer de mim não o fiz.
O dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho,
Já tinha envelhecido.
Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
Como um cão tolerado pela gerência
Por ser inofensivo
E vou escrever esta história para provar que sou sublime.

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Irreparável ausência - texto publicado no Jornal da Cidade de Bauru em 02/11/2011

Toda separação é uma espécie de morte. É morte porque pressupõe enterro, memória e dor. Enterra-se todo um universo de possibilidades e prazeres; enterram-se sonhos e sentimentos que se insinuavam eternos; enterra-se a si mesmo. A cabeça se volta para as lembranças de uma vida que já não existe mais, e o martelo da memória é insistente e desesperador. Ele teima em nos acompanhar. A dor é tamanha que até existir pesa. E como é pesada a carência, a falta que alguém nos faz!




É como se um pedaço da alma fosse milimetricamente extirpado. É como se a águia do mito de Prometeu viesse nos visitar todos os dias, arrancando de nós o que houve e há de melhor. E não há enxerto que substitua essas incisões. Não há cirurgia plástica que corrija a cicatriz de uma grande perda.




Cedo ou tarde, a marca da separação exibe os seus aspectos mais asquerosos, negativos, revela, definitivamente, o fim. Impõe-nos à habitualidade da ausência e à um resquício de culpa e punição, como se fossemos, nós, os homicidas do amor. Cada segundo que passa é um tormento a menos de saudade. Cada dia, cada mês, cada ano que transcorre é um caco a mais para se juntar ao que foi partido. E amar dilacera porque implica justamente na convivência diária e direta com a possibilidade decisiva do fim, ainda que se trate de um final cuidadosamente planejado.




Assim como a separação é semelhante à morte, o processo que nos encaminha em tal direção é como uma doença crônica, que se instala sorrateiramente, sem avisos, sem previsões e precedentes, sem diagnóstico ou cura. Induz-nos ao inconformismo revoltante: é a injustiça por excelência.




A irreversibilidade de um fato, a sentença última, é que torna o luto da separação um rito de passagem permanente, em que o hábito do sofrer se torna o medicamento que o leva adiante; a rotina torna-se o maquinário hospitalar que o ajuda a respirar todos os dias, e que o faz lembrar, às vezes, que ainda se vive, mesmo sem ele (a), mesmo sem amor.



E eu falo, nesse momento, de todos os tipos de amor. Se é que se pode classificar o amor. Porque viver nada mais é que amar, perder e morrer. Só ganhamos algo temporariamente; só há acréscimo, plus de vida, quando nos doamos em união. Quando lançamos mão de toda a nossa capacidade de amar, de querer bem, de ensinar e aprender, de crescer e construir mundos, levantar sonhos, compartilhar sorrisos na identidade recíproca do mais belo sentimento; no cuidado, carinho e segurança de saber que não se está só.




Não se deixem enganar pela enfermidade do afastamento. Ele é traiçoeiro e fatal. A finalidade, o sentido da vida é aquilo que fazemos dela. E o que mais vale é criarmos nosso sentido vital sem que, acima de tudo, nos afastemos de nós mesmos: o amor maior e primeiro.




A pior separação, a morte terrível é aquela que ocorre consigo mesmo. Quando nos dividimos e nos perdemos nos labirintos de uma individualidade distante, sem volta, sem retorno. Não há esperança para aqueles que se abandonam, e só agora eu enxergo que cada gesto não realizado, cada palavra não dita em tempo, cada afeto não compartilhado é que é, de fato, o cadáver que assombra, o verbo definitivo, o erro imperdoável, o irreparável.

Na Noite Terrível - Fernando Pessoa


Na noite terrível, substância natural de todas as noites,

Na noite de insônia, substância natural de todas as minhas noites,

Relembro, velando em modorra incômoda,

Relembro o que fiz e o que podia ter feito na vida.

Relembro, e uma angústia

Espalha-se por mim todo como um frio do corpo ou um medo.

O irreparável do meu passado — esse é que é o cadáver!

Todos os outros cadáveres pode ser que sejam ilusão.

Todos os mortos pode ser que sejam vivos noutra parte.

Todos os meus próprios momentos passados pode ser que existam algures,

Na ilusão do espaço e do tempo,

Na falsidade do decorrer.


Mas o que eu não fui, o que eu não fiz, o que nem sequer sonhei;

O que só agora vejo que deveria ter feito,

O que só agora claramente vejo que deveria ter sido

— Isso é que é morto para além de todos os Deuses,

Isso - e foi afinal o melhor de mim - é que nem os Deuses fazem viver ...

Se em certa altura

Tivesse voltado para a esquerda em vez de para a direita;

Se em certo momento

Tivesse dito sim em vez de não, ou não em vez de sim;

Se em certa conversa

Tivesse tido as frases que só agora, no meio-sono, elaboro —

Se tudo isso tivesse sido assim,

Seria outro hoje, e talvez o universo inteiro

Seria insensivelmente levado a ser outro também.

Mas não virei para o lado irreparavelmente perdido,

Não virei nem pensei em virar, e só agora o percebo;

Mas não disse não ou não disse sim, e só agora vejo o que não disse;

Mas as frases que faltou dizer nesse momento surgem-me todas,

Claras, inevitáveis, naturais,

A conversa fechada concludentemente,

A matéria toda resolvida...

Mas só agora o que nunca foi, nem será para trás, me dói.


O que falhei deveras não tem esperança nenhuma Em sistema metafísico nenhum.

Pode ser que para outro mundo eu possa levar o que sonhei,

Mas poderei eu levar para outro mundo o que me esqueci de sonhar?

Esses sim, os sonhos por haver, é que são o cadáver.

Enterro-o no meu coração para sempre, para todo o tempo, para todos os universos,

Nesta noite em que não durmo, e o sossego me cerca

Como uma verdade de que não partilho,

E lá fora o luar, como a esperança que não tenho, é invisível p'ra mim.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Versus Íntimos - Augusto dos Anjos

Vês ! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão - esta pantera -
Foi tua companheira inseparável!

Acostuma-te à lama que te espera !
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera

Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro
A mão que afaga é a mesma que apedreja

Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga
Escarra nessa boca que te beija


Mundo bélico

Debaixo da minha vida há um muro de metal que me comprime as vértebras,
há ensaios, mas nunca realizações... há rabiscos do que tentei, há memórias que supus, delírio, culpa e sons afogados. Há desejo sem resignação. Há algumas multidões solitárias.

Não sei quantos anos foram suficientes para que o lado subterrâneo esgotasse sua capacidade. Minha consciência de sobriedade, de sobre-idade, de sob, de soledad(e) me engana quando pretendo pensar sem meus olhos, quando encubro meus mosaicos de dor, minha garganta cerrada, muda, sem cor - coleção adquirida após muitas derrotas e troféus de "nãos".

Invento promessas falsas a mim mesma, todos os dias, na tentativa de que os parafusos da razão rompam meu muro metálico. O som das marteladas me ensurdece mais e mais e percebo que, no fundo, me recuso a admitir que sou meu próprio engenheiro-opressor, construtor de sólidas barreiras mentais.

Engraçado... recuso-me a trabalhar até no inconsciente e, quanto mais insisto em desvelar, mais altos e frios se tornam os cercados do que sou, meu mundo bélico particular.

É que há tanta vida e eu não tenho comiseração...

Já é tarde e eu não posso ficar.

Carrego minhas estratégias de aço, meus tijolos e pedras, minhas desconstruções desesperadas... mas não há tempo... só necessidade e luta.

Queria ao menos um colchão mais alto, um sono mais limpo, uma coluna mais ereta... porque tenho medo do que há debaixo... porque tenho medo.

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Aos pedaços..

Coração aos farrapos, contraído até o limite, com medo de bater.
Estômago cansado de ser eu, que queres?
Náusea de tudo e de toda a gente, ponha para fora aquilo que não te agrada.
Lá fora, outros rostos, mais ácidos, me embrulham.
E o meu intestino continua como a minha vida: só funciona de vez em quando...

Lisbon Revisited (1926) - Fernando Pessoa

Lisbon revisited
(1926)

Nada me prende a nada.
Quero cinqüenta coisas ao mesmo tempo.
Anseio com uma angústia de fome de carne
O que não sei que seja -
Definidamente pelo indefinido...
Durmo irrequieto, e vivo num sonhar irrequieto
De quem dorme irrequieto, metade a sonhar.
Fecharam-me todas as portas abstratas e necessárias.

Correram cortinas de todas as hipóteses que eu poderia ver da rua.
Não há na travessa achada o número da porta que me deram.
Acordei para a mesma vida para que tinha adormecido.
Até os meus exércitos sonhados sofreram derrota.
Até os meus sonhos se sentiram falsos ao serem sonhados.
Até a vida só desejada me farta - até essa vida...

Compreendo a intervalos desconexos;
Escrevo por lapsos de cansaço;
E um tédio que é até do tédio arroja-me à praia.
Não sei que destino ou futuro compete à minha angústia sem leme;
Não sei que ilhas do sul impossível aguardam-me naufrago;
ou que palmares de literatura me darão ao menos um verso.

Não, não sei isto, nem outra coisa, nem coisa nenhuma...
E, no fundo do meu espírito, onde sonho o que sonhei,
Nos campos últimos da alma, onde memoro sem causa
(E o passado é uma névoa natural de lágrimas falsas),
Nas estradas e atalhos das florestas longínquas
Onde supus o meu ser,
Fogem desmantelados, últimos restos
Da ilusão final,
Os meus exércitos sonhados, derrotados sem ter sido,
As minhas cortes por existir, esfaceladas em Deus.

Outra vez te revejo,
Cidade da minha infância pavorosamente perdida...
Cidade triste e alegre, outra vez sonho aqui... Eu?

Mas sou eu o mesmo que aqui vivi, e aqui voltei,
E aqui tornei a voltar, e a voltar.
E aqui de novo tornei a voltar?
Ou somos todos os Eu que estive aqui ou estiveram,
Uma série de contas-entes ligados por um fio-memória,
Uma série de sonhos de mim de alguém de fora de mim?

Outra vez te revejo,
Com o coração mais longínquo, a alma menos minha.

Outra vez te revejo - Lisboa e Tejo e tudo -,
Transeunte inútil de ti e de mim,
Estrangeiro aqui como em toda a parte,
Casual na vida como na alma,
Fantasma a errar em salas de recordações,
Ao ruído dos ratos e das tábuas que rangem
No castelo maldito de ter que viver... Outra vez te revejo,
Sombra que passa através das sombras, e brilha
Um momento a uma luz fúnebre desconhecida,
E entra na noite como um rastro de barco se perde
Na água que deixa de se ouvir... Outra vez te revejo,
Mas, ai, a mim não me revejo!
Partiu-se o espelho mágico em que me revia idêntico,
E em cada fragmento fatídico vejo só um bocado de mim -
Um bocado de ti e de mim!...

Discurso de Hitchens sobre a Igreja Católica

http://richarddawkins.net/videos/642262-hitchens-on-the-catholic-church

Como não te sonhar?

Como não te sonhar? Como não te sonhar?

Senhor das Horas que passam, Lord das águas estagnadas
e das algas mortas,
Deus Tutelar dos desertos abertos e das paisagens negras de rochedos estéreis - Livra-me da minha mocidade.

Consolador dos que não têm consolação, Lágrima dos que nunca choram, Hora que nunca soa - Livra-me da alegria e da felicidade.

Ópio de todos os silêncios, Lira para não se tanger, Vitral de lonjura e de abandono - faze com que eu seja odiada pelas mulheres e escarnecida pelos homens.
Címbalo da Extrema-Unção, Carícia sem gesto, Pomba morta à sombra, Óleo de horas passadas a sonhar - Livra-me da religião, porque é suave; e da descrença porque é forte.

Lírio fanando à tarde, Cofre de rosas murchas, silêncio entre prece e prece - Enche-me de nojo de viver, de ódio de ser são, de desprezo por ser jovem.

Torna-me útil e estéril, ó Acolhedor de todos os sonhos vagos; faze-me pura sem razão para o ser, e falsa sem amor a sê-lo.

Ó Água Corrente das tristezas vividas; que a minha boca seja uma paisagem de gelos, os meus olhos dois lagos mortos, os meus gestos um esfolhar lento de árvores velhas -Ó Ladainha de Desassossegos,
Ó Missa de cansaços, Ó Ascensão!

Que pena eu ter de rezar (não que eu reze) como um homem, e não te querer como uma mulher, e não te poder erguer os olhos do meu sonho como Aurora-Ao-Contrário do sexo irreal dos anjos que nunca entraram no céu.

Rezo a ti, meu amor, porque o meu amor é já uma oração; mas nem te concebo como amado, nem te ergo ante mim como santo. Que os teus atos sejam a estátua da renúncia, os teus gestos o pedestal da indiferença, as tuas palavras os vitrais da negação.

Como não te adorar, se só tu és adorável? Como não te amar se só tu és digno de amor?
Quem sabe se sonhando-te eu não te crio, real noutra realidade; se não serás meu ali, num outro e puro mundo, onde sem corpo tátil nos amemos, com outro jeito de abraços e outras atitudes essenciais de posse?

Quem sabe mesmo se não existias já e não te criei, te vi apenas, com outra visão, interior e pura, num outro e perfeito mundo?

Quem sabe se o meu sonhar-te não foi o encontrar-te simplesmente, se o meu amar-te não foi o pensar-te em ti, se o meu desprezo pela carne e o meu nojo pelo amor não foram a obscura ânsia com que, ignorando-te, te esperava e a vaga aspiração com que, desconhecendo-te, te queria?

Talvez sejas uma saudade minha, corpo de ausência, presença de distância...

Posso amar-te e adorar-te porque o meu amor não te possui e a minha adoração não te afasta.

Sê o Dia Eterno e que os meus poentes sejam raios do teu sol possuídos em ti.
Sê o Crepúsculo Invisível e que as minhas ânsias e desassossegos sejam as tintas da tua indecisão, as sombras da tua incerteza.
Sê a Noite Total, torna-te a Noite Única e que todo eu me perca e me esqueça em ti, e que os meus sonhos brilhem, estrelas, no teu corpo de distância e negação.

Cinza na tua lareira, importas que eu seja pó? Janela do teu quarto, que importa que eu seja espaço? Hora do teu horário, que importa que eu passe, se por ser tua ficarei, que eu morra se por ser tua não morrerei, que eu te perca se o perder-te é encontrar-te?

Realizador dos absurdos,
Seguidor de frases sem nexo.
Que o teu silêncio me embale, que a tua mão me adormeça,
que o teu mero-ser me acaricie e me amacie e me conforte, ó Heráldico do Além, Ó Imperial Ausência, Pai de todos os silêncios,
Lareira das almas que têm frio, Anjo da guarda dos abandonados, Paisagem Humana e irreal de triste e eterna Perfeição.

Não te esqueças de mim e não te rias.

Sou vil, Sou fraca, mas antes de qualquer coisa, SOU VOCÊ.

Milena Tarzia e Fernando Pessoa.

Bah!



Se eu não fosse idiota, não perderia tanto tempo com coisas pequenas e sem valor, não deixaria a chance escapar, não toleraria outros da mesma espécie...



Se eu não fosse idiota, saberia amar e viver, não teria medo de arriscar e esperaria a sorte bater...


Se eu não fosse idiota, outros não me fariam de idiota, não teria cara de palhaça e saberia lidar com o azedume!



Se eu não fosse idiota, não passaria tardes inteiras lendo e escrevendo, pensando em coisas que ninguém pensa, esperando por aquilo que não existe...



Se eu não fosse idiota, não teria blog, não teria raiva, não teria porra nenhuma...




Porque, se eu não fosse idiota, eu não seria eu mesma, só seria meia Milena, de tão adequada à máscara...



Se eu não fosse idiota, não escreveria textos como esse; e isso seria muito bom!

terça-feira, 26 de julho de 2011




Ausência (Vinícius de Morais)

Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar os teus olhos que são doces
Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto
E no entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida
E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto
E em minha voz, a tua voz.
Não te quero ter, pois em meu ser tudo estaria terminado
Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados
Para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada
Que ficou em minha carne como uma nódoa do passado.
Eu deixarei...Tu irás e encostarás tua face em outra face
Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada
Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu
porque eu fui o grande íntimo da noite
Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa
Porque os meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço
E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado
E eu ficarei só como os veleiros nos portos silenciosos
Mas eu te possuirei mais que ninguém, porque poderei partir.
E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas,
serão a tua voz presente, tua voz ausente, a tua voz serenizada.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

As cores da insanidade

Não compreendo o desejo que algumas pessoas têm de tudo querer enxergar. Parecem dispor de sensores ao invés de olhos, esses ciclopes modernos. Um passo em falso e lá estarão eles, para observar desvios e investigar deslizes. Não se utilizam do olhar senão como fonte de suspeita e punição; não suportam erros, não toleram delírios, não respeitam a ilusão. Possuem todos a postura ereta, tediosa e sorrateira de um Moisés, como se o diferente fosse necessariamente o indigno, como se o destoante fosse sempre um caluniador.



Como ilustres detentores de tábuas de leis que julgam acertadas, nossos belos homens de pedra, estrábicos de alma e espírito, se insurgem dialeticamente contra os desarrazoados, como se não houvesse razão na loucura, como se não houvesse loucura na razão. Tentam, diariamente, ajustar os olhinhos míopes, corrigí-los com lentes que aproximam e domesticam, sem compreender que não é necessário enxergar detalhes impostos para fazer parte do manicômio da vida.



Insistem em querer adestrar os astigmáticos e os presbíopes, sob a alegação de que o que vêem não corresponde a realidade. Para tanto, são desferidos os eletrochoques da moral taciturna, as terapias do poder, o blá blá blá retórico. Munidos de uma vestimenta branca que encarcera, tentam tornar saudáveis os supostamente enfermos; por meio da ingestão de drogas que retificam a visão, querem que os míopes e daltônicos enxerguem certas cores, sem saber que se trata, no fundo, de mera perspectiva.



Deitados nas camas da incongruência, apáticos, já com o olhar em repouso que alcança o horizonte, nossos outros, divergentes, são esquecidos, perdem o seu caráter de sujeito e passam a ser tratados como objeto, numa relação alienado-alienista que, aí sim, beira o patológico.



Nos asilos, nossos anormais eram depositados aos montes, como se a exclusão e o afastamento resolvessem o "mal" atribuído aos transtornados. Atualmente, com o advento da Lei 10.216/01 e por intermédio de uma tímida luta antimanicomial, essas instituições sombrias estão se extinguindo gradativamente, sendo substituídas por hospitalecos de curta duração. Tampão no olho alheio é refresco...



O que esses deuses da norma - que tudo vêem - não compreendem é que também é possível enxergar sem cor, já que a cor não é um fenômeno físico, é interpretação. Se não fosse a luz, não haveria cor. Entretanto, a espécie humana possui o requinte, ainda que restrito, da visão noturna - estratégia em muitos casos necessária para a sobrevivência, tanto dos certos quanto dos errados.



Quem deseja o infravermelho ético e a amplitude máxima da visão panorâmica não percebe o limite natural que seu olho possui. Não percebe que sua capacidade de enxergar e identificar objetos, ou seja, de racionalizar, se restringe ao seu corpo, ao pequeno sujeito observador que é, num universo de representação e interesse.



No fundo, a cegueira contempla bem mais aqueles que não hesitam em ver, aprisionados que estão em suas próprias retinas dogmáticas. Mal sabem eles, parasitas oftalmológicos, que a origem daquilo que entendemos, hoje, por conhecimento, por clarividência, está justamente ligada ao delírio e à loucura.



Em seus hospícios particulares, dopados pela sensação de onividência/onisciência, os ciclopes da modernidade continuam a batalhar contra os incontroláveis titãs que devaneiam. Na mitologia grega, Cronos foi rei dos titãs. No nosso folclore discrepante, também. Somente o tempo é capaz de relativizar visões sem a corrente da cegueira histórica. Somente o tempo, primitiva invenção, pode derrotar as lentes impostoras da oposição e da distância.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

O Teatro da Sala de Espera

O desejo que tenho de que o mundo se realize perante os meus olhos agora, a vontade que sinto de ser espectadora e protagonista de minha própria vida, toda essa carga de possibilidade, imaginação e alheamento, todos os instantes de dúvida e não aceitação, de malícia e contradição, encenação e revolta, as tardes de tédio e insuficiência, tudo isso me insere numa classificação temporal e numa condição social que me retira de mim mesma e me joga nos confins do universo da juventude.


Num determinado período histórico, fora estipulado que eu deveria me comportar do modo correspondente ao que se espera de mim. Criou-se, portanto, a idéia, inicialmente romântica, do jovem como símbolo do desregramento e da liberdade, de tal modo que até mesmo os mais velhos e sábios passassem a desejar uma fonte que os encaminhasse inversamente no tempo e lhes devolvesse aquela época de vigor físico e ingenuidade.



Mas os nossos jovens de hoje não têm nada de ingênuos. Muitos não conheceram os horrores de uma ditadura que tentava calar, mas tantos outros morrem diariamente em conflitos políticos, religiosos, nas periferias ou em grandes centros urbanos. Podem eles não ter maturidade suficiente para compreender certas peculiaridades, mas muitos possuem um espírito contemplativo e um poder de criação que não caberia aos que se aposentaram da vida. A sagacidade de alguns vence de longe o rótulo da inocência, quando o assunto é música, sexo e embriaguez. Mas a juventude não pode ser reduzida ao jovem alienado e individualista que permanece imóvel e que só quer saber de se ausentar.



A alienação, a estagnação, a paralisia que se infiltrou especialmente em nosso país não é prerrogativa dos jovens. A banalização de tudo que outrora teve valor, o descontentamento, o tédio e o mascaramento, condições que nos dizem, hoje, ser pós-moderna, não tem sua origem na juventude. É um processo que vem ocorrendo desde a revolução industrial, quando as crianças, os jovens e os adultos passaram a tomar efetivamente um lugar na atual sociedade.



A partir de então, o hábito e tédio assumiram em nossas vidas o papel fundamental: o tempo como esgotamento de si.



Acontece que os jovens buscam justamente esse esgotar-se, porque sabem do caráter inexorável do tempo, e essa ansiedade natural que nos é atribuída nada mais é que uma resposta física a esse turbilhão de emoções ao qual nos entregamos. Aliás, o físico é reflexo desse momento transitório, mas único.



Os jovens têm a feição límpida, a pele ainda lisa, e se esforçam para manter essa imagem. Há uma imagem representativa da juventude que invoca a beleza, o sublime e a exatidão, e, de fato, muitos se esforçam para tentar resguardá-la. A imagem do jovem, muitas vezes, não é a representação do que ele gostaria de ser. A aparência provocativa nem sempre reflete o que há de mais sincero, porque, acima de tudo, somos atores. Encenamos, todos os dias, o papel que nos fora concedido por um diretor que desconhecemos; ensaiamos todos os atos, em nossa espera teatral sem fim. Em nosso palco, não queremos envelhecer, não queremos crescer, amadurecer, porque ninguém quer se aproximar da morte.



Sabemos que, cedo ou tarde, teremos de optar pelo caminho profissional, pelas instituições que estão por aí em atacado, pelo homem ou mulher amados. Afinal de contas, se se é adolescente, tudo o que esperam de você é que você passe no vestibular. Se se é jovem, esperam que você se forme, trabalhe e se case. Quando se é adulto, cobram que o casal tenha, ao menos, filhos saudáveis e, posteriormente, netos, com quais se possa brincar aos domingos.



Todos os planos de sua vida já foram anteriormente traçados, cabendo a você, jovem, dar apenas os contornos finais, escolher entre alternativas já colocadas e ofertadas desde que nasceu.



Só que ser jovem é mais que escolher. Ser jovem é saber controlar a ávida sede de viver e de experimentar tudo quanto possível. Ser jovem é materializar a ética quantitativa de Camus, em que o maior número de experiências possíveis se reduz no verdadeiro significado da intensidade da vida. Porque a vida não é senão uma sucessão ininterrupta de esperas, que somente fora das pausas de nossa ansiedade infantil, se completa pela obtenção do objeto esperado. Porque só então atingimos a vontade que nos move, a nossa vontade de viver.



Ser jovem é ser o grande afirmador da vida, porque insaciáveis e insatisfeitos, queremos sempre mais. É o inesgotável desejo de vida do jovem que faz com que nossos velhos sábios sintam inveja. No fundo, há um ranço para com os jovens, pela observação saudosista e retroativa a que estão imersos. E é tão somente pela perspectiva da lembrança e da esperança que jovem é observado. Lembrança do que todos já foram e esperança do que se poderá ser.



É a nossa magnífica representação que nos torna a chave para o futuro e a saudade do passado. Nós jovens somos os únicos que mantêm regularmente a específica capacidade de regeneração, porque, quando somos, inventamos e, quando inventamos, somos.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

O Retorno

Olá futuros leitores,


Atendendo a pedidos, estou de volta com o blog!


Devido ao extenso conteúdo publicado secretamente ao longo dos últimos 5 anos, tive de retirar vários textos do ar, a fim de que fossem respeitadas a privacidade (não só a minha) e a origem dos textos. Muitos deles possuíam caráter acadêmico, motivo pelo qual foram, obviamente, retirados do site - sobraram dois, apenas. Outros, extremamente pessoais, foram excluídos para poupar o leitor das tragédias melosas em que, às vezes, nos inserimos.


Não sei com que regularidade pretendo escrever, não gosto de imposições. Tampouco desejo comentários ou avaliações aos textos. O blog fora criado para expor meus pensamentos tão somente a mim mesma. Sempre funcionou como uma espécie de "arquivo", de pasta de armazenamento. Hoje, por questões políticas e essencialmente egoístas, proponho exibir meus "vômitos" e indisciplina a todos aqueles que obtiverem a simples vontade de participar desse universo que ouso chamar de absurdo.


Para quem já conhece um bocado, os textos não possuem um tema determinado, e são absurdamente pessoais, marcados pela observação que faço do ambiente em vivo, além da rasa compreensão que procuro atigir acerca do que sinto. Na maioria das vezes, não me é possível transmutar em palavras aquilo que sinto... sentir é justamente não pensar! Por isso, muitas vezes minto, mas minto com fins artísticos e não desejo outra coisa senão criar.


Não sei com que intensidade os textos atingirão os olhos daqueles que estão por detrás da tela de cristal líquido, mas me proponho à difícil tarefa de evitar tagarelices.


No mais, acredito que possa ser oportuna a troca de informações acerca de livros, filmes, músicas e tudo o que mais aprouver. Ressalto que evitarei ao máximo citações e frases feitas, por respeito ao blog (rs), mas, de vez em quando, um poeminha ou outro até que cai bem!


É isso.


Sejam bem-vindos ao meu universo.


Podem entrar, mas não fechem a porta.



quarta-feira, 29 de junho de 2011

Os Idiotas


Somos de um tipo raro. Não temos direitos, nem deveres, ou quaisquer benefícios. Somos assistidos, diariamente, por nossos representantes, sem que precisemos agir ou questionar. Não sabemos por que estamos aqui ou para onde iremos. Só sabemos que estamos e que, um dia, iremos.

Contam-nos, desde pequenos, que estamos crescendo num ambiente repleto de democracia, liberdade regulamentada, respeito e mútua solidariedade. Restringem nossas mínimas escolhas, enchem os nossos ouvidos de esperança, caçoam de nossos gestos débeis, riem das nossas curtas memórias, embriagam-se com a nossa estupidez. Não nos permitem que sejamos nós mesmos – seria ridículo demais.

Somos esta leva de insuportáveis, de párias ambulantes, transeuntes indesejáveis. Comportamos a insustentável diferença que separa, a fisionomia que assusta, a ingenuidade digna de pena. Somos estrangeiros desde que nascemos; portadores de uma anomalia que jamais será curada. Somos os idiotas!

Mas, se acalmem! Não somos possuidores de uma idiotia qualquer. Somos raros, lembram-se? Resgatamos a pureza do príncipe Míchkin, de Dostoiévski, que sofria em razão de sua bondade excessiva. É que, no mundo, o homem bom é um idiota. Idiota no sentido antigo do termo: isolado, solitário. É um estrangeiro imbecil, que insiste em ser alheio ao homem de Estado.

Mas a nossa sagaz idiotia também nos remete à imagem do satírico Nelson Rodrigues, quando pensamos nos vários outros tipos de retardos. A gravidade da doença é tamanha, que já não há espaço para o discernimento. Há outros tipos de idiotas, todos iguais em ignorância e pretensão, que andam por aí em suas belas vestes e se esbarram no Planalto central, como se possuíssem a sobriedade necessária para comandar essa idiota que vos fala.

Esses parasitas condecorados, esses deficientes de caráter, nos sujeitam aos mais perversos tratamentos, sob o pretexto da cura e da normalidade.

Esse segundo tipo de idiota, o mais perigoso, eu diria, gerou, ainda, um terceiro tipo, o mais asqueroso: aqueles que, nas palavras do próprio Nelson, foram chamados de “falsos cretinos”. Eles são maioria e se escondem, com a habilidade sorrateira de uma toupeira, nas casas mais simples, nos ofícios mais comuns.

Acontece que o Brasil está repleto de “falsos cretinos”, desses idiotas que agem da mesma maneira que os idiotas de Estado, corrompendo, aos poucos, o que resta de belo na estupidez dos raros.

Estamos sendo invadidos por idiotas clandestinos e ninguém está imune às tolices.

Somos o país dos idiotas e não sabemos o que é felicidade.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Disputas e Observações


Descobri que numa semana de chuvas, a maior tempestade não molha ninguém. Não falo das mortes da região serrana do Rio, das enchentes em São Paulo ou do desespero em Santa Catarina. Falarei em nome de algumas regiões esquecidas, supostamente ricas e em desenvolvimento – pedacinhos de um Brasil distante e inofensivo, diariamente oprimido.

Quem compõe esses pedacinhos são pessoas, em sua maioria, franzinas, magrinhas, sem vida. Pessoas do povo, que apesar do frágil veículo físico, disparam olhares paralisantes, sem o glamour dos proprietários das cabeças de gado, sem a vulgaridade da senhorinha mercenária que se imagina dona da pequena cidade, sem a prepotência do único engenheiro ou do dono do bar. Esses olhares, notadamente desconfiados, imobilizam forasteiros suspeitos e investidores à paisana. Eles não te querem por perto, têm medo do desconhecido.

E foi nessa pátria nada minha que decidi sair em busca daquilo que todos, ou quase todos, saem um dia: um emprego. Com a mochila em mãos, fui atraída para uma região razoavelmente despovoada, na fronteira do Mato Grosso com o Pará, região já de floresta amazônica, de muitos rios e poucas estradas. É claro que não imaginei encontrar toda a acessibilidade e facilidade que o estado de São Paulo oferece, mas, o que me espantou não foram as estradas de terra ou a ausência de saneamento básico ou as chuvas torrenciais; tampouco a difusão das antenas de celulares ou a rede wireless por toda a parte, contrastando com os casebres mal cheirosos. O que me assustou foram esses olhares carentes, de animal faminto, de bichano irracional, de necessidade e esperança, que beiram a inocência.

Pequenos olhinhos míopes que foram por mim investigados e não me trouxeram emprego, mas outra fortuna. Foram esses homenzinhos quase cegos que me trouxeram de volta Kafka, no esplendor da oposição. Como não pensar n’O Processo ou n’O Castelo, diante daquele nítido estado de oposição dos contrários?

Não há compreensão ou comunicação para esses coitados magrelos. A lógica que envolve o que lhes é externo é incompreensível e, aos olhos cansados, não interessam acusações, comportam-se, de antemão, como culpados, como se o destino já lhes estivesse sido anteriormente traçado, com um fatalismo satisfeito e derradeiro. Havia ali todo um domínio unido à culpa que parece se resolver em cisão entre homem e autoridade. Há uma ruptura entre civilização e sujeito, e sujeição como moeda de troca para um suposto crescimento. Há uma desconcertante obediência servil e pouca ou nenhuma economia avançada, terra fértil e gente rica. O que vi não é novidade para ninguém: é o poder personificado em um vilarejo, o poder que cultiva a ignorância, a conveniência da cegueira e a mordaça dos fracos.

É nessa enorme esfera ou carapaça política que se esconde o monstro da tempestade que distancia e, no fundo, e ainda sem saber, são todos eles estrangeiros, peregrinos de uma terra de ninguém, usufrutuários de um pedaço de Brasil sozinho, sem pai nem mãe. Esses joguetes franzinos e solitários lutam para permanecer na memória do monstruoso aparato estatal, não em números, não em quantidade, mas em qualidade, qualidade unificadora. No contra-senso dessa disputa de xadrez entre poderes, fui apenas mais uma peça, devorada pelo rei. Mas ainda há a possibilidade da revanche; ainda há a estratégia do xeque-mate.