sábado, 3 de novembro de 2007

Com as mãos entrelaçadas, como se estivesse clamando, pedindo,
Com o queixo em riste e olhar cabisbaixo,
Percorro os minutos, expulso os segundos,
E deixo o tempo se esvair, levando as tempestades da minha alma.
Elas são frias e fazem doer as costas e o peito.

A chuva parou e o meu céu está quase quieto.
O cheiro de gotas pelo ar assombra minha noite,
enquanto ainda ouço o barulho do inacabado.
Despedaço minhas pálpebras ao olhar para o monitor brilhante
que insiste em carregar minhas mãos para essas letras vadias,
navalhas, policiais, estúpidas.

A respiração do cão está ofegante e ele dorme ao meu lado,
como se velasse meu sono ou me vigiasse, prestes a acordar para me revelar seus sentidos. O vento que sopra é áspero, cortante e, logo, fechei a janela. Mas o calor não me deixar ir. Quero dormir e meu corpo não permite.

Ligo o condicionador de ar e penso em todos os ares, todas as reais existências - pleonasmando - que são condicionadas.

O tempo é a minha condição.

Às vezes me pergunto quantas condições tenho imposto à mim mesma, ao longo da minha maior condição. Nunca fui boa em matemática; há diversos símbolos que desprezo. Mas sempre gostei de procurar respostas, sempre me senti atraída pela dúvida. E essa resposta eu só terei quando cessarem todas as condições.

Isso me lembra Fernando Pessoa: "quero ser eu, sem condições".

Mas a minha vida anda como meu intestino: só funciona de vez em quando.

Pedaços de cabelo caem no teclado.
Amanhece e eu desligo o ar.
Durmo com o cão, com a dúvida e tenho sonhos atemporais.