sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Diálogos de um fantasma de meia-noite

Diálogo de msn, com um ex, transmutado em texto:

Ele dizia: "Buhhhhhhhhh!!! Era o barulho de um fanstama tentando preciptar-se na minha vida. Grande ilusão: ele nada tinha de assustador. Simplesmente não me amedrontava. Em verdade, ele nada tinha de "camarada", mas perdera todo o seu fascínio. Que importa passar por portas, se não se pode abrí-las p/ outros passarem consigo? Ah, eu não consigo mais ter medo!"

E o fantasma respondia: - O que penso é irrelevante, mas, você fez a interpretação errada. Fantasmas não são para assustar, são para vagar e para permanecer presentes mesmo que já estejam mortos. Por isso, atravessam barreiras e não desejam que outros abram as portas; preferem a solidão. Para quê portas abertas se ninguém pode os ver? São gelados como o frio curitibano para que sejam realmente sentidos, para contradizerem o calor.
Fantasmas não são fascinantes, são fascinados.

O "buhhhhh" não tem intenção de assustar, mas, intenção de dizer: "veja, estou aqui, presente, do seu lado, sem vc sequer imaginar. Não me veja, sinta apenas..."
E, como bom fantasma, sei do que falo.
O nosso objetivo fantasmagórico é passar pelas pessoas sem sermos notados. Queremos que apenas alguns poucos tenham esse privilégio de sentir toques gelados de presença de distância.

E ele acrescentava: "E o pobre fantasma continuava a envidar esforços no seu engodo de tentar me persuadir que sua reputação ainda era a mesma de outrora. Sim, ainda há pouco contara que atemorizou uma casa inteira, numa erma rua de Curitiba".

E o fantasma indagava: - Não! não confunda este fantasma com o fantasma nitzscheano. Fantasmas não tentam persuadir. Penso que reputação não é a palavra adequada... se não, serei obrigada a crer em um amigo moralista!
Fantasmas são feios, gélidos e imperceptíveis. Há algo mais tarziano que isso?

E ele dizia: "Você ainda ñ conhece esse fantasma."

E o fantasma retrucava: - Não... você que o desconhece e assim o quer. Pensa que o conhece e finge o contrário. Lembre-se, caro amigo: fantasmas não têm coração, mas os "assombrados" têm.
Isto tudo é somente um "Diálogo de Fantasma de meia noite", e quando você pensa que o matou, foi ele quem acabou contigo.
Fantasmas já estão mortos e não voltam para o mundo dos crentes, a não ser que desejem (por acaso) o seu eterno retorno. Eterno retorno...
E como o bom fantasma que sou, não espero compreensão, nem sua, nem de qualquer outra crença.

E o amigo inocente insistia: "Qual a minha importância para um fanstama? Por que raios ele quer passar e interferir em minha vida? Definitivamnete, havia algo de errado. Quanto mais luz (razão?!) entrava no meu quarto, menos fantasma existia. Ele ia se desfalecendo. Novamente um barulho. E, então, um mero lençol jogado no chão, com dois grandes furos na parte superior. Quem o usava??? Quem o usava??? Buhhhhhh. Agora sim eu sinto medo."

E o fantasma se cansava: - Quando você vier a padecer, compreenderá.
Morrerá acorrentado por suas convicções e não poderá sequer vagar.
Você quis desconhecê-lo e será assombrado por essa idéia até se tornar o próprio.


Continua...

15/07/2005