Pudesse eu dissertar sobre verdades, e o mundo estaria repleto de pântanos mal cheirosos! O quente odor que agora se aproxima, há muito revela o meu faro desolador: é chegado o tempo das desclassificações!
Olho para janelas afora como quem fita o reflexo no espelho, e observo a deformidade de tristes rostos quase-humanos. Não pretendo hierarquizá-los ou distinguí-los em espécie. Apenas identifico e absorvo as incertezas de um ambiente fétido em que se encerram as sólidas carapaças de homens e besouros.
Pudesse eu falar sobre mentiras, e os besouros estariam sorridentes!
Mas no tempo das desclassificações o silêncio é deus...
Ah! Pudesse eu tagarelar sobre o silêncio e reclassificar insetos sem os simbolismos da eternidade!
O homem, esse escaravelho das sistematizações, comungaria de uma natureza jamais experimentada. E seriam tantos risos e tantos suicídios...
Quem dera que os élitros humanos fossem flexíveis... teriam o movimento cíclico dos primeiros sobrevôos.
Quem dera que os nossos vôos fossem noturnos, porque só então seria possível desfrutar da beleza e da claridade dos vaga-lumes de outrora.