terça-feira, 16 de julho de 2013

Evoé!


Anoitece e as histórias que tenho para contar se perdem em descaminhos escuros propositais.

[Despedaçamentos rotineiros. Manias vitais.]

São narrativas despropositadas, mudas, que refletem gerações ancestrais, comuns a mim, e que agora canto mentalmente como que um resgate de uma presença de não sei bem o quê, como vontade de não esquecer-me da ausência inaudível, como hino à imagem e ao silêncio que tanto preservo no meu ritual cotidiano.

Existo como quem homenageia cadeias inteiras de material genético, numa liturgia que não cessa de ensinar e apreender. Descrevo cores, sons e aromas (uva) desde as mais aéreas filosofias ao profundo e fúnebre sepultamento dos deuses, só pelo prazer de respirar; crio símbolos, mitos e verdades da memória só pelo prazer de parir.

E nada me ilumina mais que o sossego das noites de luar sem ruídos, repletas de palavra e força e vinho e hábito. Eleutherio, Lethea, Zagreus, Bromio: não me interessam designações, encerramentos.

A minha mitologia pertence exclusivamente a mim, aos meus muitos, e os meus mistérios só podem ser rapsodiados (aos poucos) por aqueles que se iniciam no culto. Para tanto, há um enigma a ser decifrado, como no mito de Thársia ou Tharsis (com ou sem Katharsis), na topologia napitini: aquele que erra é condenado a nunca mais errar. Eis a punição! Você arriscaria?