Anoitece e as histórias que tenho
para contar se perdem em descaminhos escuros propositais.
[Despedaçamentos rotineiros.
Manias vitais.]
São narrativas despropositadas,
mudas, que refletem gerações ancestrais, comuns a mim, e que agora canto
mentalmente como que um resgate de uma presença de não sei bem o quê, como
vontade de não esquecer-me da ausência inaudível, como hino à imagem e ao
silêncio que tanto preservo no meu ritual cotidiano.
Existo como quem homenageia
cadeias inteiras de material genético, numa liturgia que não cessa de ensinar e
apreender. Descrevo cores, sons e aromas (uva) desde as mais aéreas filosofias ao
profundo e fúnebre sepultamento dos deuses, só pelo prazer de respirar; crio
símbolos, mitos e verdades da memória só pelo prazer de parir.
E nada me ilumina mais que o
sossego das noites de luar sem ruídos, repletas de palavra e força e vinho e hábito. Eleutherio,
Lethea, Zagreus, Bromio: não me interessam designações, encerramentos.
A minha mitologia pertence
exclusivamente a mim, aos meus muitos, e os meus mistérios só podem ser rapsodiados (aos poucos)
por aqueles que se iniciam no culto. Para tanto, há um enigma a ser decifrado,
como no mito de Thársia ou Tharsis (com ou sem Katharsis), na topologia napitini: aquele que erra é condenado a
nunca mais errar. Eis a punição! Você arriscaria?