quinta-feira, 11 de julho de 2013

Pausa da linha (do ponto, da alma, do mundo, da paixão).


Somente se a métrica fosse milimetricamente estética,
E se a estrofe da minha vida se transformasse em verso livre,
Só assim eu me tornaria o verbo de uma língua qualquer.
 
Não, mentira. Não poderia ser de uma língua qualquer. Teria de ser qualquer coisa que cantasse, que ecoasse melodia, ritmo, resultasse em harmonia. Uma língua musical que me sussurrasse todas as tônicas do universo, que se faz verso, que se faz reverso, se faz imenso, tenso, denso. Língua que devorasse a medida das palavras e que me fizesse sentir a poesia ácida do pensamento, a doce prosa da fantasia, o amargo da literatura mental. Qualquer coisa que se fizesse som, imagem e letra, em que eu pudesse vomitar todas as minhas incertezas, em que eu firmasse a união dos sujeitos aos predicados, criasse diariamente substantivos e revalidasse adjetivos, tornando-os mais que simples linguagem. É... aquela verborragia necessária e insustentável.
 
Somente se a frase não fosse oração e nem designasse conceitos, e se os conceitos não contivessem nada, só assim eu deixaria de ser o sinal bruto da representação intencional, qualquer coisa de feito, citado, determinado, acabado; qualquer coisa pronta, concluída e retórica. Não, mentira. Eu não poderia ser o persuasivo fim, teria de ser o começo, o ponto de partida latino, clássico, das flexões e conjunções interrogativas da história, o novo dialeto dialético milenar, a tragédia epopeica: o idioma de mim mesma. Somente se o nome se iniciasse com maiúscula e me indicasse qualquer coisa de inspiração e entusiasmo.
 
Somente se fosse alguém que rimasse comigo... e ponto final.