Somente se a métrica fosse milimetricamente
estética,
E se a estrofe da minha vida se transformasse em
verso livre,
Só assim eu me tornaria o verbo de uma língua
qualquer.
Não, mentira. Não poderia ser de uma língua
qualquer. Teria de ser qualquer coisa que cantasse, que ecoasse melodia, ritmo,
resultasse em harmonia. Uma língua musical que me sussurrasse todas as tônicas
do universo, que se faz verso, que se faz reverso, se faz imenso, tenso, denso.
Língua que devorasse a medida das palavras e que me fizesse sentir a poesia
ácida do pensamento, a doce prosa da fantasia, o amargo da literatura mental.
Qualquer coisa que se fizesse som, imagem e letra, em que eu pudesse vomitar
todas as minhas incertezas, em que eu firmasse a união dos sujeitos aos predicados,
criasse diariamente substantivos e revalidasse adjetivos, tornando-os mais que
simples linguagem. É... aquela verborragia necessária e insustentável.
Somente se a frase não fosse oração e nem designasse
conceitos, e se os conceitos não contivessem nada, só assim eu deixaria de ser o
sinal bruto da representação intencional, qualquer coisa de feito, citado,
determinado, acabado; qualquer coisa pronta, concluída e retórica. Não,
mentira. Eu não poderia ser o persuasivo fim, teria de ser o começo, o ponto de
partida latino, clássico, das flexões e conjunções interrogativas da história,
o novo dialeto dialético milenar, a tragédia epopeica: o idioma de mim mesma. Somente
se o nome se iniciasse com maiúscula e me indicasse qualquer coisa de
inspiração e entusiasmo.
Somente se fosse alguém que rimasse comigo... e
ponto final.