domingo, 23 de setembro de 2007

Escrevi esse texto aos 17 anos, com uma inocência que chega a arder os olhos:

A Garota da Janela

Essa é a história de uma garota que se sentava todas as noites diante da janela e observava a vida passar.
Ela havia esquecido o quão belo é o silêncio noturno e o desconhecido à passar na calçada.
E a moça da janela tinha como única companhia a solidão. Não, minto! Ele estava lá também, todas as noites, à conversar com a donzela, sobre a vida que passava diante de seus olhos tristes. Beethoven era seu maior companheiro.
A garota, ao lado de Beethoven, tinha um cigarro nas mãos que a fazia esquecer das angústias, do martírio e da beleza de ser espectadora, paisagem.
A garota da janela exibia suas lágrimas e seu cigarro como se aquilo a libertasse de um sono profundo, de um estado perpétuo de prisão da alma. E aquilo a acalmava. Só ele a acalmava, ele e a vida solitária.
Até que em uma noite fria, a garota pensou ser uma árvore. E sim, ela era uma árvore. Algo que vem de baixo, algo pequeno... que cresce... que um dia crescerá e amadurecerá e terá folhas verdes, grossas, brilhantes... terá o orvalho da noite... terá frutos suculentos e sementes que pensarão, um dia, como ela. E não, não se trata de evolução, mas, REvolução.
O fato de estar diante da vida e vê-la passar e nada se modificar a perturbava.
Os mesmos pensamentoszinhos medíocres, as mesmas cidadeszinhas promíscuas e provincianas, os mesmos medinhos estúpidos, os mesmos "conversês" ridículos, a mesma atitude ingênua, o mesmo mundinho infantil e cretino de sempre. Nada mudara.
A vizinha da frente continua a assistir "Faustão" (e que Fausto!) aos domingos. O imbecil do ap. de cima continua gritando gol. O fulano ao lado continua catando todas, a ciclana continua vadiando... e a burra histérica continua atrás do burro... E o burro continua burro. E a garota da janela estava farta, está farta... farta de ver aquelas mesmas jogadinhas (afinal, pra eles, a vida é um jogo!) de sempre.
E resolveu mudar. Resolveu ser árvore, mas árvore grande! Talvez mangueira, talvez ipê... ou talvez uma árvore rara, um pau-brasil. Talvez tão autêntica e antiga quanto o pau-brasil por pensar que aqueles "fulanos" desconhecidos poderiam mudar. E ainda se assustam por ela querer ser árvore...
E por isso, a garota da janela, chora todas as noites. Por tentar mudar, por tentar crescer e se sentir comprimida por paredes, jaulas, grades e pessoas vazias.Mas hoje ela compreende o vazio.