domingo, 23 de setembro de 2007

Poema tardio


Na triste casa vazia
Em que eu passava o resto do dia
Consumia, suava, perdia
A vida que ali se esvaía

Em doces pratos de absurdo
Comia as víceras restantes
Como se me faltassem dentes
Em tons de cinzas de gentes
Em inquietos "nãos" protestantes

Sempre inconformada
Sempre a não aceitar
Aquilo que pregam na praça
Aquilo que teimam doar

Doação de casto gentil
A gente desconfia na hora
Eu vivo é no Brasil
Mas não tardo e vou embora

Cansei dos palanques e vozes
Das antas a titubear
Dos "ais" vorazes e ferozes
Daqueles que pensam enganar

Deixo a corja pensar que sou
Que o erro existe e que os juízos não são humanos
Teimo em dizer que vou
Lavo o doce e penduro o pano

Fumaça de cigarro, odores
Aroma do meu pesar, de amores
Saudades da infância tardia
Que se me vou aos açôres
Não é só pelas cores
Mas pela pátria alegria.

Prendam a vida e o tédio
Que eis o melhor remédio
para os que já vão partindo

Soltem o louco, que já vou-me "indo"
Que se volto é pelo beijo de assédio
Dos homens que se me vão rindo.