domingo, 23 de setembro de 2007

Flores



Fale-me de flores...
Falar-te de flores?

O que são as flores senão a expressão da carne tua?
São macias, delicadas, puras...
São murchas, moles, putas...
Vadia expressão da carne humana!

Flores? Homens despidos de suas almas,
Nus e sedosos como os nossos egos.
Mágica materialização do esqueleto fictício
Broto do verme imundo da pele anarquista!

Caos dos espinhos do caule de Kafka
Ventre oco dos infernos de mim mesma.
Soldadinhos de chumbo das sociedades estelionatárias
Bandeiras de religiões de vento
Surdez de Beethoven
Cripta da biosfera das parábolas de um cadáver.

Flores?
São sonhos democráticos,
Ilhas perdidas num oceano distante do teu.
Semitas em jaulas invisíveis aos olhos
Nós, presos aos olhos visíveis das jaulas.
Utopia verbal, mentira suprema, vinho da tradição impregnada.

Quando falo Flores,
penso em Plágio,
Imitação da realidade de Kant!
Apagogia das teorias Milenares
Adjetivo do hominídio sem mérito
Diminutivo do bêbado louco
Sabedoria das cruzes inexistentes!

Penso em hemorragias de países pobres
Riso dos marmanjos republicanos dignos de merda
Morte transformadora de mártires pagãos
Estranho sumiço do poeta árabe
Coruja a espreitar a alheia vida noturna e a vida noturna alheia...

Flores!!
Ah... Flores!!!

Elas são os perfumes que movimentam o mundo!
A produção de filme antigo e caro
O consumismo de reprise!
O prestar de contas à deuses sentados em tronos de platina
Deuses que espumam pela boca, bebem coca e são doentes do pé.

Flores são os fantasmas que te assombram na madrugada infinita.
A saudade que te faz enlouquecer silenciosamente,
O nárcotico que te faz viver deliciosamente...

São as revoluções que de nada servem
E a servidão revolucionária dos párias.
São o passado a te cutucar a nuca
O filho morto do teu mundo de brinquedos
Brinquedo do mundo do teu filho mudo
A voz sem palavras
As palavras sem letras
As letras criadas.

Flores? Não passam de Humanidade!

23/11/04